sexta-feira, 25 de junho de 2010

Dia 22 – On the road again

Já não bastando tudo o que Gana tinha feito por nós, este fenómeno Cazaque, acordou de manhã bem cedo para passar na oficina às 8 e ver in loco a caixa usada desmontada. De acordo com o “Meister Specialist” a caixa usada proveniente da sucata de Aktobe estava em bom estado. Deste facto nos deu conta o Gana durante o nosso pequeno-almoço. A adrenalina voltava a correr no nosso sangue antecipando já a hora em que o Adamastor voltaria a fazer aquilo que sabe fazer melhor: devorar “kilhómetros”.


Ao meio-dia, como prometido, lá estava ele já fora da oficina e com teste de estrada feito pelo “Meister Specialist”. Apesar disso, o especialista russo insistiu em que o dono da viatura fosse experimentar a nova caixa, com ele ao lado, para ver se estava tudo bem.

(da esquerda para direita: Especialista Russo; Marat; Gana e Anatoly)

A nova caixa não era exactamente igual à anterior por se tratar de um modelo de 1996 em vez de 1994. Segundo o especialista, devido a estas pequenas diferenças, existia um silvo agudo que se ouvia agora em substituição a um rangido anterior mais grave que fazia o Adamastor soar como um tanque de guerra. O silvo agudo causava alguma apreensão. O especialista garantiu que a caixa estava em bom estado e que aguentaria até à Mongólia e muito para além disso. A ver vamos!

Com o Adamastor em perfeito estado de saúde, fomos com o Gana traçar a nova rota que nos permitiria interceptar o percurso do Mongolian Challenge na cidade russa de Barnaul. Para este objectivo, também existiam “2 variants”:

- Ir por um caminho de montanha até à fronteira e atingir a cidade de Orsk, depois Cheylabinsk, seguindo para Omsk e finalmente Barnaul.

- Ir por dentro do Cazaquistão, passando por Astana e depois subir, pela mesma estrada que os Kudus para Barnaul.

Apesar de na segunda opção nos podermos juntar à expedição ainda antes de Barnaul, a necessidade de recuperar o tempo e os kms perdidos, a incerteza da qualidade das estradas cazaques até Astana e de Astana à fronteira russa, a possibilidade de termos novos problemas mecânicos, a sensação de maior qualidade de piso e de disponibilidade de assistência nas estradas russas, foram argumentos de peso para optarmos pela primeira opção.

Despedimo-nos com emoção de Gana, deixando-lhe um CD da grande diva do fado português Amália Rodrigues. Ele, que em conversa nos confessara ser ex-DJ e conhecer apenas Cesária Évora como referência da música portuguesa, recebeu a nossa prenda que posteriormente viria a classificar como “Amaliy iz weri good!Am laik folk, super!”

E desejou-nos “Good wei”.
Recarregamos baterias com um belo almoço de despedida de Aktobe no “Taksim”.

Programamos a Natalia para Orsk e partimos.
Tivemos pena de deixar o Cazaquistão sem ter tempo para o explorar mas a sensação de voltar à estrada encheu-nos de energia e cantávamos “On the road again!”


Tínhamos mais uma fronteira pela frente. Desta vez estávamos por nossa conta. Assim que lá chegamos, o procedimento do costume, 6 postos de controlo; três do lado do Cazaquistão e três do lado Russo.


Preenchemos formulários e compramos mais um seguro para a Rússia. Depois de alguns olhares incrédulos dos oficiais ao se aperceberem da nossa nacionalidade e de termos explicado a todos eles o nosso percurso de viagem, no 2º posto de controlo foi-nos pedido para tirarmos todas as bagagens do Adamastor. Todas!! O Adamastor estava entupido de malas até cima, mas lá lhes fizemos a vontade e tiramos uma a uma até ele ficar vazio.
Em cima de umas mesas, foram abrindo as malas, remexendo o seu conteúdo e apalpando tudo o que lhes aparecia à frente. Nem o saco de roupa suja do Carlos lhes escapou. Toda a gente viu a sua roupa interior.
Quando chegou a vez de revistar a mala do membro feminino do grupo, o oficial que se apercebeu a quem esta pertencia, apenas a apalpou e afastou-a como que constrangido por contactar com objectos e roupa do sexo oposto.

Nas gavetas da mala do Adamastor encontravam-se 1001 utensílios de mecânica que tiveram de ser abertos e explicados um a um.
Arrumamos metodicamente tudo de volta na mala do Adamastor. Após uns bons minutos, a missão estava cumprida e pudemos continuar para o posto seguinte.

Saímos do Cazaquistão e ainda andamos um par de kms em no man’s land até ao posto de controlo russo.

Aí, mais uma vez, explicamos de onde vínhamos para onde íamos, preenchemos formulários e um oficial curioso revistou os nossos passaportes para saber por que países tínhamos andado.

No posto de controlo seguinte, eis que os oficiais pedem para TIRAR AS MALAS DO ADAMASTOR!!!!

One more time!! Here we go! Toca a tirar tudo para fora novamente. Malas revistadas e apalpadas uma a uma. Chega novamente a vez da mala do membro feminino do grupo e o oficial pergunta “Alexandra, your baggage?” Depois de um sim, a atitude foi a mesma do posto cazaque, apenas a apalparam e afastaram-na como se de um bicho papão de tratasse.

Enquanto arrumávamos a malas novamente, já com o Pedro a suar em bica, veio a pergunta do costume “Guns? Marijuana? Magical?” Respondemos que não. Mas… alguém que realmente tenha algum destes itens vai responder que sim?

Após 3h30 tínhamos com sucesso entrado na Rússia novamente!

Lição aprendida: se quiserem transportar algo ilegal de um lado para o outro guardem-no na bagagem das meninas.
Já estava a anoitecer e decidimos pernoitar em Orsk.




Àquela hora da noite tudo tinha um aspecto de cidade dormitório, com tudo fechado e ninguém pelas ruas. Estava a ser uma tarefa complicada pois os placards em cirílico não são muito explícitos para quem não os sabe ler…

Encontramos um restaurante com movimento àquela hora e sorte! Tinha também um hotel por cima. O poder de regateamento de Pedro deu frutos uma vez que havia apenas um quarto disponível com 2 camas e ele conseguiu convencer a senhora que só falava russo em lá por uma cama extra.

Entretanto, o charme do Adamastor tinha atraído alguns locais que curiosamente se aproximaram e convidaram-nos para beber uma cerveja com eles.

Pousamos as malas e encontramo-nos com eles na esplanada do restaurante.

Era um grupo de jovens de Orsk que aproveitava a sua noite. Apenas um falava inglês. Roman apresentou-nos a sua namorada Elena e os seus 4 amigos Tatiana, Dimitri, Boris e Irina.





Todos com fisionomia absolutamente russa. Irina de um loiro tão loiro que magoava a vista; Helena menos loira mas com traços faciais fortes e típicos destas zonas, Dimitri baixinho (loiro também) parecia um daqueles soldados mais novos das trincheiras russas da segunda guerra mundial, Boris um menino da noite muito bem composto mas com um guarda-roupa bastante duvidoso e Tatiana gordinha simpática (ao modo da vocalista dos Gossip) tímida de olhos bonitos.
Só Roman destoava do grupo. Tinha um aspecto completamente diferente. A Xaninha aproveitou mesmo o relato de uma viagem ao Egipto para lhe perguntar se era essa a sua proveniência. Não era!! E a resposta arrancou os primeiros sorrisos da noite.
Enquanto esperávamos pelos petiscos (àquela hora já não podíamos exigir mais) fomos falando das diferenças entre os dois países. Ordenado mínimo, custo de vida e alguns aspectos culturais.
Com o estômago mais composto, após ingerir uns coraçõezinhos de galinha e umas fêveras, a confiança e bom humor cresceram rapidamente e a dada altura o Roman ofereceu à Xaninha uma moeda de 50 kopik de Rublo. Uma moeda especial de boa sorte que os estudantes russos usam guardada no calcanhar quando têm de fazer algum exame.

Isto despoletou uma troca de moedas Euro portuguesas para todos e de umas notas de 10 Rublos com direito a dedicatória em Russo. A doce Tatiana fez uma dedicatória a Pedro “From Russia with love”.


Roman falava do seu sonho em ir de carro até à Finlândia e descer até Portugal. Trocamos contactos para posteriores combinações.

Apesar da barreira linguística entendemo-nos todos com a ajuda das traduções de Roman.

Acabamos a noite com a promessa de nos encontrarmos com Roman ao outro dia às 9h pois ele insistia que deveríamos visitar a cidade dele antes de partirmos.



Aktobe (KZ) - Orsk (RUS)
Kms percorridos no Dia 22  – 250km

Kms acumulados da viagem – 7942km

3 comentários:

  1. Livrem-se de guardar material ilícito na mala da minha Carochinha! Por estes lados todos estamos cheios de saudades da nossa doce menina.
    Xandinha, guarda mto bem esse talismã.
    Beijos a todos mas especiais para a minha doce Carochinha.

    ResponderEliminar
  2. Que bom que voltaram de novo à vossa aventura malucos!!! Rapidamente vão alcançar o restante pessoal e atingir o vosso objectivo!! Ja tenho saudades tuas maninho...Grande abraço para o Carlinhos e beijoca para a Xaninha!! Beijo Big Brother

    ResponderEliminar
  3. Já sei que as crateras gigantescas da Mongólia e a lua cor de laranja são de cortar a respiração e compensam a falta de internet, mas já enerva não podermos ler as vossas aventuras! E logo agora que já estão na bendita Mongólia! Já encontraram o Pastor? Que é que ele disse? Quando chegarem a Ulan Bator escrevam, sim? Beijos

    ResponderEliminar