domingo, 6 de junho de 2010

Dia 5 – Mais perdidos do que 1 cego num tiroteio

Chegamos já perto da meia noite ao Hotel Feathers, e à nossa espera estava um verdadeiro palacete inglês com direito a mordomo e tudo!!



Decorado ao mais antigo dos estilos ingleses, parecia retirado de um filme ou de uma daquelas séries antigas britânicas (ver Yes Prime-Minister; Monty-Piton, Black Adder, etc).



O cenário perfeito para uma personagem brilhante. O funcionário do hotel que nos recebeu era um verdadeiro “British Butler”. Mesmo aquela hora, serviu-nos no bar, levou-nos as malas até ao quarto e em jeito de despedida perguntou num inglês perfeito: “Excuse me Sir, witch newspaper would you like in the morning?” E de manhã, lá estavam o “The Sun” o “Daily Telegraph” e o “Times” espalhados pelo chão em frente à porta dos hospedes que os tinham pedido.

Ao pequeno almoço, cheio de bom humor, lá estava ele outra-vez!! Ao início surpreendido com as nossas (poucas) horas de sono, reagiu prontamente com pão caseiro a sair do forno e iogurtes naturais!!






Encontramos a sede da Kudu Expeditions com ajuda do Navegador Ndrive e com algumas apalpadelas e inversões de marcha após a chegada a Bishops Frome.

Fomos recebidos pelo Mike “Kuduro”, ainda em tronco nu, a sair da sua VW Transporter (onde tinha dormido). Ele avisou o Lee “Estiga-te” que os tugas tinham chegado. Apresentamo-nos e andamos por ali a fazer o reconhecimento do veículo de apoio, das motas e das instalações da Kudu Expeditions. O reconhecimento do trajecto necessário à realização desta expedição foi realizada a solo pelo Lee “Estiga-te”. No entanto, quem nos irá liderar nesta aventura será o Mike “Kuduro”.

O Mike “Kuduro” é alguém que faz alpinismo, motociclismo, auto-caravanismo, parece que está sempre calmo, mas não dá muita cunfia.

O Lee “Estiga-te” é alguém que já fez várias viagens à volta do mundo de mota, já foi 4 vezes pela costa oeste de África desde Marrocos até Cape Town, entre outras aventuras. Profissionalmente, até há 5 anos, era daqueles militares que desarmam bombas… ao estilo Hurt Locker. Apesar de todo este background, esta alminha, queria enviar os nossos passaportes de volta para Portugal para que nós conseguíssemos entrar no Reino Unido. O Pedro levou a coisa a peito e teve de enviar um e-mail com um link para a embaixada do Reino Unido onde se comprovava que nós só necessitávamos do Cartão do Cidadão para passar a fronteira. O Pedro ainda está ressentido com este assunto.

Os colegas de expedição foram chegando:

- Primeiro chegou o casal Sandra “Vaqueira” e Steve “Vaqueiro”. Ela, bastante magra e alta mas visivelmente em boa condição física, conduzindo uma BMW1200 de sua propriedade. Ele, mais baixo, encorpado, de sorriso fácil e com ar de que se necessário fosse, levantaria a traseira do Adamastor sozinho, conduzindo uma Yamaha Teneré de sua propriedade.

- Depois chegou o casal de americanos Clay “Pipas” e Susana “Gambuzina” que irão viajar juntos numa Yamaha Teneré da Kudu Expeditions.

- De seguida, chegou o elemento mais novo da expedição, o irlandês Jamie “Cenoura” que tirou carta de mota há 3 meses e nunca fez uma viagem de mais de 2 horas em cima de uma motorizada. O Jamie trabalhava num dos bancos que "deu à costa" na Irlanda devido à crise financeira e então aproveitou esta fase entre empregos para realizar a expedição.

-Finalmente, chegou o Julian “Avô Cantigas”, assim apelidado devido à sua provecta idade, cabelo comprido branco em rabo de cavalo, brinquinho na orelha esquerda e ar amigável. A sua motivação para a expedição é muito simples, ele sempre quis realizar a viagem, sendo que, para colmatar os últimos lugares, a Kudu realizou um desconto de 1000 libras de última hora. Como ele tinha recebido recentemente uma herança, não hesitou, apesar de ter confessado que a sua companheira não ficou muito contente com esta situação. Welcome to the group Julian!

Antes de partirmos para a prova prática de orientação através de GPS, chegou ainda o Vernon “MacGiver”, vindo directamente da África do Sul para desempenhar a função de mecânico da expedição. Que personagem!!! Temos a certeza que ainda nos vamos rir muito com este rapaz. Mecânico de motas BMW de profissão, não enjeitou a possibilidade de tirar uma licença sem vencimento da oficina para acompanhar o Mongolian Challenge. Para ele, não há problemas, parece um daqueles portugueses que acompanhavam os barcos espanhóis, ingleses e holandeses, para nas horas de necessidade e aperto “desenrascarem” e resolverem problemas.

Os ingleses chamam a este dia “Pré-Expedition Training”. Na parte da manhã tivemos uma apresentação do percurso, ensinamentos sobre utilização de GPS, uma pequena prova de orientação pedestre, conselhos e informações sobre os países a visitar. Após um almoço de sandes (que parece que vai ser frequente com esta malta!), fomos para a parte prática. Afastamo-nos 45 kms da sede da Kudu Expedition e com o GPS nos nossos veículos realizamos duas provas, uma de navegação em trajecto definido e outra de navegação até uma determinada coordenada GPS em que a decisão do trajecto a efectuar estava a nosso cargo. Na primeira prova até nos portamos bem, tendo chegado em segundo lugar ao final do trajecto marcado. Na segunda prova é que o Adamastor torceu a cauda… adentrando pelas estradas estreitas de uma vila do interior de Inglaterra, era complicado gerir a largura do monstro verde (não é o Hulk, é o Adamastor). A única coisa que tínhamos era uma linha recta desde a nossa posição no GPS até ao ponto de chegada pretendido. As estradas não estavam marcadas no GPS e, por isso mesmo, tivemos de optar pelo método da tentativa e erro. Virávamos à direita e víamos se a distância ao ponto final aumentava ou diminuía. Se diminuía, continuávamos em frente. Se aumentava, fazíamos meia-volta volver porque tal como dizia Napoleão Bonaparte quando bateu em retirada: “Para trás também se avança!” Chegou a haver polémica dentro do carro sobre se deveríamos ir em frente, virar à direita, voltar à esquerda ou optar pela estrada que subia o monte. Os ânimos quase que se exaltaram, no entanto, rapidamente percebemos que não valia a pena essa teimosia toda e que o que parecíamos era dois cegos no meio de um tiroteio sem saber para onde ir para fugir das balas!!

Antes de finalizar o Pré-Expedition Trainning, os elementos da Kudu fizeram questão de demonstrar o método correcto de mudança de um pneu nas Yamaha Teneré. Sinceramente, julgamos que o treino deveria ter sido mais “hands on”, pelo menos para os companheiros que vão viajar de mota. Efectivamente, o Mike “Kuduro” demonstrou como mudar o pneu. No entanto, Deus queira que estejamos enganados, mas julgamos que nenhum dos elementos seria capaz de, no meio da estepe Cazaque, sozinho, realizar a reparação do pneu. Nos por cá, tudo bem, os 2 pneus suplentes na traseira do Adamastor fazem-nos dormir descansados.

No final do dia de treino, fomos todos (excepto o casal americano Clay “Pipas” e Susan “Gambuzina” que foram dormir mais cedo) até ao Pub Local de Bishops Frome que distava apenas 5 minutos a pé da sede da Kudu Expeditions. Falar de Inglaterra e dos hábitos dos ingleses sem referir o Pub, seria como falar da Madeira e dos Madeirenses e não referir a espetadinha no arraial. Eles vivem e socializam imenso no Pub. Se para os Portugueses se tornou hábito ir tomar um café para ter tempo de conversar um pouco, para os ingleses parece-lhes mais lógico fazê-lo com uma “pint” na mão. O Pub era razoavelmente bem decorado, pouco movimentado para um Sábado à noite, e tinha uma selecção de “ales” bastante razoável, bem como uma selecção de cervejas estrangeiras de pressão como Carlsberg e Guiness. O nosso colega de aventura, Jamie “Cenoura”, irlandês dos 7 costados, garantiu que a Guiness não sabia igual à que ele tomava na Irlanda, assegurou-nos que a melhor Guiness se bebe nos pubs mais sujos. (Esta teoria já tinha sido utilizada em Portugal para explicar porque é que o Luso da Praça Carlos Alberto teria alegadamente a melhor cerveja de pressão da cidade o Porto.)

Durante a ida ao Pub foi verbalizado pelos presentes a intenção e vontade de ir ao Deserto de Gobi. Este troço da expedição foi incluído no trajecto que nos foi apresentado pela Kudu Expeditions, no entanto, durante o briefing de apresentação do trajecto, realizado no Pré-Expedition Trainning, foi referido pelo Lee que não iríamos ao Deserto de Gobi. Imediatamente, pessoas que eram na altura completamente desconhecidas umas das outras, cruzaram olhares entre si e leu-se nesses olhares a decepção. Ir à Mongólia e não ir ao Deserto de Gobi seria como ir a Roma e não passar pelo Vaticano. No Pub, firmou-se o compromisso de manter a pressão sobre a organização para tentar alcançar o Deserto de Gobi. Da mesma forma que as agências de comunicação manipulam a agenda política, Sandra, Steve, Jamie, Julian, Carlos e Pedro firmaram um pacto de colocar o Gobi na ordem do dia. Vamos lá mandar o barro à parede e ver se ele cola.

Bishops Frome (UK – Bishops Frome (UK)
Kms percorridos no Dia 5 – 88 km
Kms acumulados da viagem – 2400 km


P.S. (salvo seja) - Parabéns à princesinha de Sande, Maria Santos Vaz que hoje completa um ano de idade!! Beijocas do Carlos.

1 comentário:

  1. Bugtal Grande Jonhy:)...Muitos parabens!!! E sempre em grande forma como se pode ver:)...ca te espero no verao, a mais a tua esposa...Mano continuação de boa viagem!!!

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