quarta-feira, 23 de junho de 2010

Dia 18 – Um anjo chamado Gana!

Pela manhã, os Kudus presentearam-nos com mais uma das suas desorganizações. Para o pequeno-almoço não havia leite. Tentaram remediar a situação recorrendo a NAN2 (leite para lactentes) misturado com água, dentro de uma bacia, numa diluição tal que poderia ser classificado como medicamento homeopático.

Arrancamos e chegamos à cidade Cazaque de Aktobe para dar cumprimento ao registo da nossa presença junto das autoridades policiais. Este registo assemelha-se bastante à medida de coacção aplicada em Portugal aos suspeitos de crime: “Termo de identidade e residência”. Pelos vistos, para as autoridades Cazaques, todos os turistas são suspeitos até prova em contrário. Enviamos 2 batedores à frente em busca da esquadra central de polícia com a prestimosa colaboração de um taxista local (aquilo a que carinhosamente se chama Rhamdulah GPS). Através de SMS, os nossos batedores enviaram as coordenadas do local ao restante grupo que seguidamente se lhes juntou. Lá chegados, encontramos os 2 batedores a olhar com estranheza para os documentos que tínhamos de preencher.

É aqui que entra em cena o herói do dia. Nesse mesmo momento, aproxima-se do grupo um Cazaquistanês entroncado, baixo, de olhos claros e sorriso simpático que tinha acabado de desmontar de um Lexus 470 (equivalente ao Toyota H100). Apresentou-se como sendo Gana Zenko, presidente do clube motard de Aktobe. Prontificou-se a preencher um documento para que todos o soubessem preencher correctamente. Assim o fez, não sem antes ligar à sua amiga Melanie, americana da Peace Corps que, segundo ele, poderia ser útil como intérprete já que ele classificava o seu inglês como básico.


Enquanto os outros preenchiam e entregavam os documentos, Werner e Carlos testavam o Adamastor que voltava a apresentar um ruído estranho vindo da roda dianteira direita. Werner concluiu que o ruído provinha dos rolamentos.

Aproveitando a existência de uma oficina anexa à central da polícia, metemos o Adamastor no elevador e solicitamos que desmontassem a roda. Suspeitou-se dos rolamentos e efectivamente eram culpados. Fomos à Toyota comprar as peças necessárias (tarefa interessantíssima quando nós não falamos russo e eles não falam inglês) e os mecânicos instalaram os rolamentos. Num sistema Full Time 4WD é necessário ter cuidado em acertar todo o sistema quando se substitui uma das peças que constituem esse mesmo sistema. Foi esse cuidado que os nossos amigos “mecânicos de esquina” não tiveram. Habituados a trabalhar com Ladas a cair de podres, não estavam habilitados a lidar com a peça de relojoaria que é o sistema de transmissão do Toyota HDJ80. Quando fomos dar a volta de teste, após a substituição dos rolamentos da roda direita, o barulho da roda direita tinha efectivamente desaparecido, sendo, no entanto, substituído por um barulho idêntico, desta feita na roda esquerda. Isto intrigou os nossos amigos mecânicos de vão de escada que quiseram imediatamente desmontar a roda esquerda onde não encontraram nenhum defeito. Para que a roda esquerda não fizesse ruído, sugerimos aos mecânicos que retirassem o veio de transmissão entre a caixa de transferências e o diferencial dianteiro. Assim o fizeram. Ficou assim o Adamastor a puxar apenas dos quartos traseiros. No entanto, imediatamente nos apercebemos que estava com folgas e que de vez em quando fazia uns ruídos esquisitos agora já no centro do carro. Por sugestão do nosso amigo Gana, fomos descansar para o Complexo Turístico Tau, localizado nas montanhas fora da cidade e ficou agendando para o dia seguinte uma ida a uma oficina dele conhecida que seria mais especializada em veículos nipónicos (Nissan, Toyota, Lexus, Mitsubishi).





Chegados ao Hotel Tau fomos recebidos efusivamente pela restante comitiva que já descontraía na esplanada com Line Brew (a loira do Cazaquistão).
Estávamos nós a discutir sobre a possibilidade de arranjar um mecânico que trabalhasse fora de horas, quando chegou o grande Gana e a sua amiga Melanie. Gana queria mostrar-nos um rio que ficava perto do Complexo Turístico. Lá fomos guiados até ao pequeno paraíso na terra. Água límpida a chamar para uma valente banhoca. Os mais destemidos foram primeiro, fazendo inveja aos que cá fora, vestidos, viam a cena. Pouco depois, já o 3º elemento da comitiva portuguesa tinha sido empurrada para o rio com roupa e tudo.

À noite, aproveitamos a cozinha gourmet cazaque do restaurante do Tau e banqueteamo-nos longamente até horas tardias. Salientam-se as línguas de borrego, costeletas de borrego e o porco panado de meio quilo. O Julian, que estava farto de passar sede e fome, graças às ementas sovinas dos Kuduros, foi dos elementos que mais exagerou, tendo pago a factura na manhã seguinte. Falhou a hora de partida e teve direito a ser acordado pelo Mike Kuduro (red leader) a bater freneticamente à porta dos seus aposentos.


Aktobe (KZ) - Aktobe (KZ)
Kms percorridos no Dia 18 – 0km
Kms acumulados da viagem – 7692km


Sem comentários:

Enviar um comentário