quinta-feira, 8 de julho de 2010

Dia 04 - The Final Countdown


Visto que no Dreamland Ger Camp o pequeno almoço não está incluído na diária, arrancamos de Karkhorin sem tomar a refeição mais importante do dia. Já fora da cidade, encostamos o carro à berma, saímos para um campo verde e, lá chegados, deglutimos o resto dos ovos mexidos que o Pedro tinha cozinhado para o almoço da véspera.

Na estrada entre Karkhorin e Ulan Bator, o Adamastor passou o seu teste final de robustez. Numa secção em que a estrada principal estava em obras, fomos forçados a desviar para um percurso lateral off-road. Esse troço era repleto de armadilhas, com o terreno todo da mesma cor e com o sol a pino era complicadíssimo vislumbrar com a antecipação necessária as lombas do terreno. Por 3 vezes o Adamastor levantou as 4 patas do chão. Numa dessas 3 vezes, a sacudidela dentro do veículo foi de tal ordem que a bagagem da Xaninha foi embater violentamente na bochecha direita do Pedro roubando-lhe os óculos. Noutro desses saltos, o ombro esquerdo do Carlos ficou entramelado quando o cotovelo embateu violentamente na ombreira da porta. Ossos do ofício. Diz o povo que: “Quem tem medo fica em casa.”. Nós tínhamos vindo para a Mongólia e, por esse motivo, tínhamos de estar preparados para lidar com essas vicissitudes do trajecto.

Já passavam das 14 horas quando chegamos a Ulan Bator. Tivemos de habituar-nos rapidamente ao estilo de condução da capital mongol: taxistas portuenses x 10. Usar a buzina frequentemente e encostar milimetricamente a viatura aos carros da faixa ao lado é obrigatório. Criar faixas intermédias a meio das faixas existentes parecia também ser um passatempo popular por estas bandas. Quando o semáforo abre e alguém ainda esta preso no meio do cruzamento, cai o Carmo e a Trindade, troando uma sinfonia de buzinas a tentar apressar o empecilho.


Foi então com muito alívio que chegamos ao Oásis Guesthouse, uma “unidade hoteleira” muito peculiar, gerida por um casal Austro-germânico apaixonado pela Mongólia há mais de 10 anos. Cumprimentamos efusivamente os nossos companheiros de viagem com um sentimento de objectivo cumprido. Sentimos que eles estavam tão felizes quanto nós por ver que, apesar de todas as adversidades que a comitiva portuguesa foi encontrando, tínhamos conseguido arrastar o Adamastor até à linha de chegada.





À noite, convencemos o grupo a ir a um restaurante mongol de quem o guia Lonely Planet dizia maravilhas. Para lá ir ter chamamos um táxi. Chamamos um segundo táxi porque não cabíamos todos no primeiro. A comitiva portuguesa ficou com o irlandês Jamie no segundo táxi, cujo condutor era um jovem taralhouco e inexperiente. Apeamos perto dos serviços de inteligência mongóis. Andamos por esse quarteirão durante hora e meia à procura do bendito restaurante. Finalmente, em desespero de causa, ligamos a um dos ocupantes do primeiro táxi que nos confirmou já estar no restaurante mongol e que nos deu 3 pontos de referencia para conseguirmos lá chegar: Hotel Grand Plaza, o Edifício Rockamon e um complexo de 5 prédios com luzes azuis no topo. Mandamos parar um novo táxi e fomos lá ter.


O restaurante mongol estava em clara deplecção de stocks. Todos os pratos que eram mais característicos da cozinha mongol estavam esgotados:
- Queijo de Iaque grelhado
- Intestinos de cavalo
- Cérebro de cabra cozido
Enfim, tivemos de nos contentar com uma sopa de massa com carne de borrego e um simples e singelo bife de iaque com batatas fritas. Sinceramente, não ficamos fãs do restaurante! Já a carne de iaque, temos pena que não esteja disponível nos nossos supermercados. A carne de iaque está para a carne de vaca como a carne de javali está para a carne de porco. Um sabor mais forte, uma carne mais dura, mas muito, mas muito saborosa.




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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dia 03 - O Pastor Mongol

A incerteza do dia anterior manteve-se depois do pequeno-almoço. Abordámos vários elementos do grupo (já não vale a pena falar directamente com os 3 marretas dos Kuduro) para saber quais as possibilidades de chegar durante este dia à cidade de Ulan-Bator. A distância de 470Km estava no limite da nossa média diária. Com um esforço colectivo poderíamos assim chegar à capital Mongol um dia antes do previsto.
O sentimento da comitiva Lusa era o de aproveitar o dia para visitar algum ponto de interesse, conduzir a uma velocidade média baixa e descomprimir até a um novo local de acampamento. Cedo se percebeu que essa não era a vontade da maioria do grupo. O cansaço instalara-se em quase todos e por isso a urgência em chegar a UB era grande.
Conduzimos as primeiras horas com o Chavelha no volante e a Xandinha agarrada ao guia Lonely Planet. Quando chegamos ao primeiro ponto de encontro do dia (Way Point) a desorganização estava instalada. Metade do grupo estava perdido e crescia a revolta dentro do Adamastor. Passar o último dia de viagem à espera de outros elementos e depois fazer Km’s a grande velocidade não encaixava na nossa noção de “final em beleza” para esta viagem. Era imperativo tomar medidas e fazer novos planos.
Pela descrição que o guia (Lonely Planet ) fazia da região, existiam dois templos budistas que distavam apenas 64Km da rota originalmente definida. Um deles – Erdene Zuu Khiid – é mesmo o mais importante do país. Foi o primeiro a ser construído (1586) e é local de visita obrigatório para nacionais e estrangeiros. Questionamos imediatamente Mike “Kuduro” (recentemente baptizado como Macaco da Frente) sobre a possibilidade de o visitarmos em grupo. A resposta foi peremptória: Não! A organização Kudu não nos acompanharia nem suportaria durante esse trajecto, nem autorizava nenhum dos elementos a viajar com Motas da Kudu a fazer esse desvio. Convictos da enorme estupidez que seria ter feito mais de 10 mil kms até à Mongólia e não fazer um desvio de 64 kms para ver o referido templo, tomamos uma decisão: Nós vamos sozinhos! 
Arrancamos então, prometendo aos Kudus que nos encontraríamos no dia seguinte em Ulaan Bator. Íamos nós descansados na estrada de alcatrão que liga Arvayheer a Ulaan Bator quando nos aparece uma tabuleta de cruzamento… um caminho mais curto, de apenas 44 kms em off-road que atalhava para norte, precisamente na direcção em que queríamos seguir.



Ou seja, podíamos escolher entre fazer 2x 64 kms de alcatrão ou fazer 44kms de off-road e depois os 64 de alcatrão até Ulan Bator. Por decisão maioritária não unânime, avançamos pelos 44kms de off-road. Ainda bem que o fizemos. No final dos 44kms de off-road já todos os elementos da comitiva portuguesa estavam convencidos que tinha sido a melhor decisão.




Foi neste pequeno troço de 44 kms que encontramos a imagem mental da Mongólia que procurávamos. Sem cabos eléctricos, com prados verdes e montanhas em pano de fundo, demos de caras com O Pastor Mongol. O encontro foi breve mas emotivo. Sem grande capacidade de comunicar devido à barreira linguística, perguntamos obviamente em primeiro lugar pela saúde dos seus animais (obrigação da etiqueta mongol). Seguidamente, questionamo-lo sobre a direcção correcta para o nosso destino. O nosso novo amigo confirmou as indicações de Gina. Arrancamos despedindo-nos com um grande sorriso nos lábios e sensação de missão cumprida. Obviamente que se o tempo não escasseasse iríamos tentar pernoitar na casa do pastor e comer um dos seus cabritos. Infelizmente, não foi possível desta vez.



Continuamos na direcção que nos indicou o Pastor Mongol por mais uns kilometros. No entanto, o apetite já se fazia sentir e, por estarmos sozinhos, não havia motivo nenhum para não aceder à sua vontade. Encostamos o carro para a zona verde ao lado da estrada e o Pedro começou a preparar o pitéu.

(uma dúzia de ovos que couberam tangencialmente na panela que tínhamos para cozinhar)

Antes dos ovos comemos um enlatado de carne que tínhamos adquirido em Riga e que demonstrou ter alguma qualidade.

Fomos então em busca da primeira localidade onde o guia referia a existência de um templo budista, Shankh a caminho de Karakorum. O templo de Shankh seria o aperitivo para o Mosteiro de Erdene-Zuu em Karakorum.

(pode não paracer, mas, o primeiro nome que está na placa é Karakorum e o segundo é Shankh)

Avistamos então ao longe o templo de Shank.


Decidimos entrar e, apesar do guia dizer que era necessário pagar entrada, ninguém nos veio pedir nada.





Ao sairmos do templo, tínhamos à nossa espera um mini mercadinho de souvenirs montado desde a nossa chegada.


Após algumas compras duvidosas e uma ou outra compra excelente, deixamos a "cidade" de Shankh e dirigimo-nos a Karakorum onde pretendíamos visitar, o mais antigo Mosteiro Budista da Mongólia, o afamado Erdene-Zuu (templo dos cem tesouros).



(Passado)
(Presente)
(Futuro)





Deixamos então Erdene Zuu ao final da tarde e fomos à procura de um Ger Camp pesquisado pela Xaninha no guia que era propriedade do Campeão de Sumo Mongol. Dream Land Ger Camp era um nome auspicioso.


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Dia 02 - Brincar em mongol


Com um amanhecer mais tardio que o costume (já que sabíamos que a hora se tinha adiantado e nada dissemos à organização), acordamos com o forte vento a bater nas tendas.
Esperava-nos um dia repleto de emoções para os amantes de Todo-o-Terreno.
Com um cenário desértico, já bem na cauda do deserto Gobi, aventuramo-nos a uns km de adrenalina pelos extensos terrenos da Mongólia.


Mascaramos o Adamastor de carro-reportagem da PT TV e demos asas às nossas capacidades de realização. Com planos arriscados a alta velocidade a par com os motards, com nuvens de poeira a encobrir o caminho e com paisagens que só aqui na Mongólia são possíveis, os filmes iam saindo mais ou menos bem, com mais ou menos tremeliques, tanto das mãos dos realizadores como dos movimentos bruscos do Adamastor.





Depois de alguns km, deparamo-nos com uma pequena aldeia dividida por um pequeno rio que impedia a passagem de um lado a outro sem um inevitável mergulho. Estava na altura de fazer um river crossing à boa maneira TT e testar as capacidades do Adamastor.


Antes da travessia, os kuduros quiseram primeiro conversar com os locais no intuito de saber qual a profundidade do rio e o melhor local para o atravessar.
O rio apresentava cerca de 1 metro de profundidade, altura não recomendável à passagem dos motards. Os locais rapidamente se prontificaram a transportar as motos de um lado a outro nas suas carrinhas em troca da módica quantia de 6€. Negócio bastante rentável, convenhamos.
Entretanto, o Adamastor rosnava de impaciência, desejoso de transpor aquela massa de água e provar que estava em boa forma.
Com o impasse do negócio, decidimos ir na frente para saciar o 4x4.

(video travessia do Adamastor)

Relaxados graças ao snorkel, metemos as reduzidas e iniciamos a travessia numa 2ª suave. A corrente era forte, pelo que, mesmo um monstro como o Adamastor, sentia a força das águas na sua couraça. Foi necessário aplicar um cheirinho de acelerador para que o Adamastor mantivesse uma trajectória rectilínea rumo à outra margem. No final, estávamos todos contentes, uma travessia impecável sem necessitar do auxílio do tractor. Seria claramente um pleonasmo se um tractor como o Adamastor tivesse de ser arrastado por outro tractor.


Já na outra margem, o calor apertava. Com a falta de banho nos últimos dias, refrescar os membros inferiores pareceu-nos a melhor forma de esperar que os nossos companheiros de viagem pudessem atravessar.


(vídeo H2Omem)

Algumas crianças de gers vizinhos aproximaram-se com curiosidade perante toda aquela agitação.
A barreira linguística não nos permitia ter uma conversa, mas como o sorriso e os gestos são universais, conseguimos criar empatia com elas. As crianças, entusiasmadas, ensinavam-nos a contar em mongol, os seus nomes, bem como o nome de vários objectos que começamos a desenhar na areia. Uma autêntica aula de mongol dada por crianças. Depois, claro, veio a hora do recreio. Brincamos com eles como se tivéssemos 5 anos. Desde brincar à macaca, tirar corridas, cantando músicas acompanhadas de palminhas, todas as actividades foram cobertas.



Entretanto, o grupo de motas lá atravessou o rio com auxílio do trator e dos seu trailer.


 
Por esse motivo, tivemos de nos despedir do grupo de crianças a quem o Carlos já chamava “os meus filhos mongóis”.

Depois de um dia em grande na estrada, veio o merecido descanso. Com um jantar cozinhado pelo irlandês Jamie “Cenoura”, relaxamos no que o Steve “the Tank T-34” apelido de “de Freitas Lounge”. Cocktails de vodka com sumo de laranja e maça eram servidos aos “clientes” mais sequiosos, bem como vários tipos de cerveja fresca. Mais uma vez, o frigorífico Engel revelou-se o equipamento mais valioso do Adamastor.

(No sítio do acampamento, Pedro demonstrou os seus dotes de escalada. Onde está o Pedro?)

Estava-se muito bem no DeFreitas Lounge. Paisagem fantástica, boa companhia e conversa animada que levaram à troca de piadas entre o britânico Steve “the Tank T-34”, o irlandês Jamie “Cenoura” e os Tugas. A piada que recolheu mais gargalhadas foi uma história alegadamente verídica referente ao ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill. Churchill era conhecido como um grande bebedor de whisky, e, um dia, já etilizado, virou-se para uma mulher que o servia numa festa e disse: “You are really ugly woman!”. Ela respondeu-lhe: “You are very drunk!”. Ao que Churchill retorquiu: “Yes, indeed I am, but I will be sober in the morning!”

(Para terem a ideia da grandiosidade da paisagem mongol, procurem nesta fotografia os 2 pneus suplentes do Adamastor. Assim, terão uma noção da dimensão da restante figura.)

Fomos dormir com menos 1 hora de dia, já que o Mike decidiu revelar que afinal a hora já tinha mudado, que ele já sabia, mas que não nos quis contar para podermos descansar mais. “How convenient!”

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